sábado, 20 de abril de 2013

O que é a carne?
Vã significância de múltiplos enlaces, fim de toda comunicação, língua universal?
Que é o homem?Verbo carnal? Papiro pra esta escrita visceral?Que sou eu? Fonte? Córrego?Estrada pra estes desejos? As almas se desentendem enquanto as carnes vivamente dialogam...

As lentas horas de agonia
Afoguei-as naquele copo
Uma taça de esperança
Vadiando entre meus dedos

O amargo da língua
A impressão de que há
Qualquer coisa não-dita
Afogo-as também
Afago-as meu bem

in
" O amaríssimo travor do seu dulçor"

O Episódio da Carta

A noite vazava em meus olhos cansados com sua tênebra espessa, fria... À bem da verdade àquela hora era já madrugada e aquelas sensações eram tudo o que eu desejava. Minh'alma estava cansada, torturando-se em vão pelas cartas tolas que havia lido as cartas dela- que eu quis incinerar ou simplesmente nunca ter posto os olhos. Mas houvera posto... E as palavras dela queimavam em mim, espetavam meus pensamentos mais calmos, excitavam a minha imaginação...
Intranquilo por dentro, fiz de tudo, usei todo o meu talento para soar irreverente. Soube que havia obtido sucesso quando seus olhos desprenderam-se dos meus, escondendo a ternura, quase de imediato. E suas mãos deixaram sobre as minhas o embrulho de fino-trato e odor delicado.
Quis deixá-la partir naquele fim de tarde, ver sua silhueta como que a entrar no sol vermelho como uma borboleta se perdendo dentro da flor.
No meio-fio mesmo me deixei ficar, sentado enquanto a cena toda perdia o elemento desconcertante e começava a soar como “nada-em–especial”. E, foi assim, sem paixão e com apenas uma dose de curiosidade que desfiz o laço azul sobre o papel vermelho... E, num instante lá estava, sentindo-me tragado por um turbilhão, mãos que me afagavam, bocas que me mordiam!... Eram assim as palavras que ela me dizia!
Demorei a associar com a face angélica, mas de tanto rebuscar vi que meus olhos estavam cegos... Nunca a viram!
Como que num despertar, suas curvas delinearam-se em minha memória, os vestidos – antes só florais para mim – encurtaram-se, transpareceram e tudo o que era tão seu agora me era tão novo, recém-construído!
As ruas que subi eram quentes demais para me oferecerem abrigo e eu estava tonto por ver a rosa despontando em meio ao asfalto improvável.
Assim cheguei turvo, madrugada-após-madrugada, turvo de pensar que ela se envolveu no brilho daquele sol e eu fiquei à margem, de covardia, vendo-a desaparecer repetidas vezes e, de uma vez por todas.




Emprestei meu corpo ao teu sentimento
E de uma só vez, esqueci-me a mim mesma
Eu mudei de tom, refiz meus passos
Foi tão rápido instante, sequer reconheci
O que foram meus atos
E me observei a uma distância insegura
O que eu temia?
Qualquer coisa minha que parecia sua...

Ai de mim, sem ter remendo
Um arremedo de nostalgia e sonho
Desço numa cascata de puro veneno
Invadindo as almas sem respeito

Sozinha no leito, na lembrança
Refletindo meu interesse, vago
E o som da sua música
Entrecortando os meus disparates

Soltando-se de minha língua
Antigos verbos se contradizem
E hoje eu não sou nada 
Além de uma ciranda de palavras
Brincando com o fogo da imaginação

Ai de mim que tenho pressa
Só não tenho a minha chance
De morder, de arriscar me perder
Na iris turbulenta de um teu certeiro olhar
Me devassar e devastar ao redor
O teu desejo, a tua introspectiva inspiração

Eu que só quero o alarde louco
Destes segundos que são raros
Me desfazendo no teu corpo
Em notas delirantes, variando
O mesmo eterno tema de toda noite

Sereno é meu desespero
Envolto no cetim dos teus delírios
Arqueando loucas minhas palavras
Bebem tuas imagens
Sou mais uma criança
Dançando ao som dos sinos




E os meus olhos se encheram de desejo

A minha alma ardia na volúpia de ir ao mar...
Sussurrando em meu pensamento uma blasfêmia:
"Por que o mar não vinha?"

Síntese Comodista