quinta-feira, 25 de outubro de 2012



Eu só queria atacar esta dor
Acabar com esta falta de sentido
Queria que na força do verso
Essa ausência se perdesse
Numa nuvem de átomos invisíveis
Que toda essa confusão
Se desviasse da via que me alcança

Eu só queria desobrigar-me de ser
De pesar, de pensar e estar
Perder o condicionamento
Entrar sem evasivas
Morrer a este falso senso
E ao título de malfadada
Andar presa somente
No cheiro da rua, em reentrâncias
Que todos desconhecem

Eu gostaria de me aventurar
Insana e efervescente
Dentro de alguma hora sonolenta
Lentamente entre as fronhas de um doce travesseiro
E acordar outro dia
Em brasa, em sede, em fome...
Repleta, entretanto

Eu queria apenas quebrar o ritmo
Que me move nestas correntes
Abraçar o que preciso
Uma vez em liberdade
Uma vez por inteiro
Uma vez que fosse para sempre...

Eu queria ser eu mesma
Por um dia
Apenas isso
E isto somente





domingo, 21 de outubro de 2012

Sinto que me perco
No desvario de ser quem sou
Sinto a imprudência
Em aspirar a vida da maneira
Como eu faço
E sinto muito
Pois em nada posso me alterar

Os vestígios de mim dançam
Disparados dentro das horas
Fervem dentro da luz
E se aconchegam nos vértices
Das pedras
Nos vórtices das almas

Entrego-me e tenho-me
Furto-me e já não existo
Insisto que não temo
Não minto, apenas iludo
Com a verdade que sinto
Disparo meu hálito
Contra o tempo, contra tudo
Calo-me porque
Neste silêncio sou capaz de ouvir
Todo desejo do mundo!
 
 
Meus versos assim dispostos sobre a mesa
Parecem prever um destino sombrio...
Seu olhar atinge algo vital em mim
E  sinto faltar um raciocínio qualquer
Que me afaste do feitiço deste riso!
É tão estranho... mas fico mais viva
Na ausência de ar...que provoca esta hora!
Eu me desfaço num gesto medíocre ,
Um infrutífero aceno da sua mão
E encontro meu rumo entre seus dedos...
A tinta que tinge a folha mais limpa
É um beijo que cai sobre meu rosto esquecido...
E dele advém toda inspiração, viço, aroma!
E sinto que vai ficando tarde outra vez...
Ou será que toda esta escuridão são meus olhos
Que se fecham para melhor te perceber?!
Meu amor, a poesia nasce
No toque furtivo dos teus alegres dedos!
Nas palavras que roubo da tua boca,
Nas juras que vão escorrendo pelos lábios,
Na efervescência crescente do teu desejo!
Ah! Na pura forma que teu corpo embala!
É em perder a lucidez enquanto encontro
Os teus suspiros vorazes, arquejamentos!
Somos música, somos verso, somos arte no quadro!
E não há gênio que não se lamente
De assim não nos ter imortalizado!
Outros poetas até podem cantar
Aquele amor de cores pálidas
Que te deixam até mesmo doente.
Mas o meu verso nasce sempre na sanha
De um langue sorriso, de um desejo que arde
Inflamando, entre outros tantos sentidos:
O tato,meu bem! A pele!
O meu verso é o desejo vivamente manifesto
Na carne...
Em febre!


Soa ao longe sua voz, minha criança
Perturbando as vias já confusas do meu cérebro:
Impacta, grita!...Denuncia o meu temor.
Eu sonho à sombra e espero que feneçam
As horas tortuosas, as lamúrias, as queixas...
Deixe-me ao resguardo da luz, planando
Sobre paisagens imaginárias!
Inda neste dia não me venhas acordar...
Inda nesta atmosfera permita-me ser!
Pois é real todo sonho que nos abriga...
Deixe-me na remissão destes pecados,
Secretos pecados, sem mais condenações.
Que eu ouça risos, passos, notas arfantes,
Tresloucando-se perdidas pelo ar...
Tudo isso, ouço apenas, quando há
O silêncio, hóspede destas bocas...
Eu sonho à sombra, nela deixe-me a sonhar!
Vede quão alucinadas voam as horas pelas janelas de meu abrigo!
Na imensidão de uma estrada insone deleitam-se em vôos razantes,
Perdem-se na inconsistente ilusão do meu ser ambíguo e insone!
Para além de todas as paisagens ainda consigo prever um movimento,
Uma incerta tempestade a se formar...tomando lentamente o tímido azul...
Os ouvintes a beira-estrada são passantes desatentos,
Almas presas numa rotina crua e pardacenta, cegas a estas cores vivas!
Seus olhos não suportam do sol um mais rígido olhar, manifesto
No calor instigante de um raio mais vadio e intrépido!Doces almas tão
Frágeis ao toque de um vento mais audaz...e sua audição está há muito
Prejudicada para que eu lhes chame, para que lhes conte o que vejo!
E lá se vai o Tempo Senhor, fantasiado de menino sobre suas mentes
Vorazmente a bailar! E sua dança é louca! Seu passo é frenético!
Seu ritmo disperso oculta a perfeição da estranha harmonia!
E eu, deito-me a sombra,cismo...e cismada não sei o que sentir...
Dentro da visão estou atônita e as palavras  vão com Ele a dançar!
E fora tão longa minha estupefação que já me vieram acordar
As lágrimas mornas daquela tempestade, outrora tão longinqua!
E sinto que aos poucos sua violência aumenta, e os passantes só agora
Começaram a notá-la. Enquanto urge na turba a gritaria, a corrida
Desordeira, desesperada...minha alma despe-se de toda covardia
E eu recebo da tempestade as bátegas, lâminas geladas!
Meu riso ecoa dentro de mim e para mim somente! Uma agonia
Do êxtase estranhamente perpetrada...e eu ouço a música do tempo
Incessante, inaudível, criando novamente outra Alvorada!


Canto de Mascarados

 ·
" A vida é uma dádiva!"
Ouço vozes gritando por aí...
" Então, desfrutai!"
Mas estas mesmas vozes
Estão buscando justificativas
Para viver na apatia,
Para explicar seus medos,
Para permanecer inertes
Ante os verdadeiros obstáculos.
Andamos de olhos fechados
À s portas do Paraíso
E perdemos nosso tempo
Buscando fórmulas
Que disfarcem a incapacidade
De construirmos algo novo
Sobre uma montanha de erros.
Sobre andrajos cinzentos
Constrói-se a mácara bela
A fim de ocultar com brilhantes,
A pobreza das almas
Que a carregam.
Eu tremo ante o abismo
Pois ele me incita
O desejo mais ardososo
De continuar vivendo!
Meu coração acelera
Se retiro os pés do chão
Revelando a fúria que o move:
O desejo de voar!
Dói-me, sobretudo,
Quando enxergo minhas mãos inertes,
Meus pés parados,
E minha mente entregue ao vazio!
Para ser plena preciso criar!
Necessito o movimento
Aparentemente desconforme
Das vidas e dos sonhos,
Fluindo numa música insone,
 Reverberando em brados!!!





Meu riso ascende numa claridade inexata,
Nasce inexplicavelmente de um ritmo inexplorado,
Invade -me a alma e quando à boca salta
Já percorreu minhas distâncias mais acidentadas!
Ouço o som da minha voz, aturdindo uma vontade louca,
Deslizando sobre quereres tão velados...
Escapa-me da mente qualquer fria explicação.
Dei-me ao torvelinho desta emoções
E afasto do meu ego vãs introspecções, antigos pecados...
Eu declarei guerra a força do silêncio,
Insurgi-me contra as conveniências, o malgrado!
Fito as circunstâncias, espetáculos circences
De um sistema mui diverso do que pregam entre as gentes!
Oh Deus! Como sofri um matirio, dócilmente afagado,
Ignorantemente aceito, jamais inquerido, ultrapassado...
Cego entre cegos errantes buscando na insatisfação
Uma redoma para embelezar a incapacidade de transformar,
A fraqueza perante a necessidade do NOVO!
Hoje está meu riso revestido de uma indumentária poderosa:
A Honestidade!



domingo, 14 de outubro de 2012



Quando caminho
Certas lembranças
Desprendem-se
Dos meus sapatos
Eu fico mais leve
E mais lúcido, quem sabe
Para enxergar
As chamas novas
Que ascendem
O horizonte
Minha alma
Está em algum lugar
Esperando
Que eu finalmente
Seja capaz
De encontrá-la
Eu me livro
Do peso de ser
Um eu- mesmo
Incognoscível
Para chegar
Mais rápido
A este estranho
Destino final
Meus pensamentos
Repensam
A velha estrada
E cindem de vez
Com o chão
Que já conhecemos
Despeço-me
Destes abraços frios
Pois já vem o sol
De beijos e calores
O sol da nova alma
O sol que adormecera
Dentro da minha
Espera

Quanta volúpia haverá
Nas reentrâncias secretas
De tuas palavras ternas
E quando fulgor se oculta
No brilho discreto de tua Iris
 
Mal sabe tua sombra
Das ardências das pedras
Em que mecanicamente se projeta
E teu hálito sequer desconfia
Das chamas que alimenta
Dos arrepios que levanta
Alma gentil envolta

Numa aura de
Impronunciável malícia
Teus passos conduzem uma dança
Nunca um caminhar
Tuas mãos despem a música
Tocam a poesia, fazem-na fremir
Tua boca é trova
Teu corpo é tango
E em tudo mais és calor e vida!