sábado, 26 de maio de 2012

Educar-me para que eu saiba da vida e de seus olhares marejados, para que eu aprenda com o riso e com as horas de torpor, que mesmo em repouso eu saiba mover-me dentro do silêncio e do tempo...
Educar meu pensamento para a liberdade! Minhas palavras para a comoção! Minhas mãos para criar! Meus pés para o caminho! Minha dúvida para reconstruir!
Educar meus sentidos para a queda, minha vontade para o cessar, minha alma para o sentir, o meu corpo para amar! 



Cravei meus olhos num ponto indefinido do plano, em busca da perfeita atenção... Com eles também a minha mente e todo o meu corpo, assim, direcionados... Numa simetria rara, em busca de um equilíbrio apenas imaginado!
Larguei no espaço meu corpo como instrumento, minhas memórias eram inexatas, pois não era eu quem pensava, era já a persona, a dona da cena, a senhora do ato!
E havia tão somente uma palavra circulando: FOCO!






Desci a velha rua, quando a neblina ainda era parte da paisagem e eu parte dela. Caminhava em direção ao píer e já trazia no peito uma lufada daquele vento, a maresia não saia do meu corpo.  Em minha memória alguns vestígios, umas lembranças bem lentas e esparsas de uns risos, umas cenas...  
Não sei dizer qual o sentido daquela caminhada. Apenas sei que quando dei por mim lá estava cheirando outra vez os becos daquelas ruas e descendo aquela ladeira... Dentro de mim, era tudo imóvel e silêncio a minha linguagem, pois sentia, que embora desertas, aquelas vias gritavam, carregavam em si o murmúrio das gentes, até as festas e arruaças de uns boêmios, como eu... Acho que até mesmo gravaram nos paralelepípedos a tua risada leve e dissimulada!
Sim! Talvez estivesse procurando a cumplicidade destes lugares que passastes tão rápido e tão leve como em mim. Talvez apenas não me satisfizesse com as marcas na minha alma, o perfume no meu corpo escorrendo ao tempo breve, talvez não quisesse ocultar teus passos, e sim, compartilhar com o que me pudesse compreender, sem mágoas ou juramentos, ou culpas e desculpas a sensação indelével do teu passar. Talvez eu apenas quisesse dizer, muda, o que as vias já gritavam. Conjugar, outra vez teu verbo secreto, sem muitas nuanças e subterfúgios... Então, só quem me compreenderia seria este caminho que vai descambar no píer.
Olhar as barcas que dançam nas ondas do amanhecer, e viver na minha quietude todo o sinuoso movimento das vagas, porque dentro em mim sentia-me tão porto, que já me ancoravam  certas saudades...



domingo, 20 de maio de 2012


Nasce outro dia sob as saias douradas do sol

E eu sinto essa brisa entre as formas deslizando,
Acaricia o tempo severo e o convence 
De que não há necessidade da pressa...
Arranca um sorriso do mestre austero!
E como criança espalha segredos no ar,
Sem o temor de perder... De iludir-se...
Alimentando o âmago de sonhos fartos
E doando, sem pena, toda alma ao mundo.
Eu não questiono tua dança, não mais...
Eu sigo teu rumo em silêncio profundo,
Ou insone mergulhado em tua música sagrada...
O que não posso é deixar de haurir desta fonte
O que não consigo é esquecer tua estrada!
E onde me levas não sei...
Até onde caminho é desconhecido para mim.
Mas vou de alma aberta que outra escolha não deixas!
Vou de alma amante, pois não sei caminhar 
De outro modo... Apenas vou!
Apanhador das flores do sonho que espalhas por aí!



Das almas que fluem...

Há pessoas que tomam o mundo como um lugar-comum e passam a computar todas as informações mecanicamente, sem mais o ardor ou a doçura, sem mais o querer e o encantamento. 
Porém, ainda há aqueles que foram de alguma forma despertos, sonham belas formas nos engenhos mais cotidianos e aspiram outras vivências, sem contentar-se com aquilo que nomeiam “normalidade”. 
A estes últimos pesará sempre o jugo da busca interminável, da procura por algo indefinível e inefável, que não raras vezes, foge à razão e às vias limitadas do descrever.
Certa agonia aflorará sempre nestes espíritos singulares, que sucumbem à força do encanto. Certas vicissitudes oficiosas sempre farão parte do seu modo de pensar e sentir... Caminharão sempre entre as vias, e jamais verão apenas simples paisagens, pois estarão caminhando entre becos e vielas de almas e pensamentos.
Se algum dia encontrardes em tuas andanças um tipo assim, aparentemente ausente, deliciosamente ensimesmado , não te esqueças de prestar-lhe a homenagem do silêncio!


De repente, tudo se alinha

E tudo se encontra, sem explicações

E não há fuga para o problema

porque há força demais 
para simplesmente cair

O corpo freme
Numa frequência nova, dispersa
Que ,ao mesmo tempo,
Une, compacta, abraça

Estou muda em cena
Não há falas, apenas a eterna ação
E eu devo estar sempre pronta
Improvisar com brio
Antes que caia o pano
Antes que aplaudam em vão



O soluço encobre o riso,
A pluma embebe-se na chuva;

Embota-se a flor e a natura
Desola na alvorada.
O coro fez silêncio
Daquela música só pausa
Resta na sombra do dia...
Lindo dia, mais nada...
E, desta vez, quando
Cair de manso o pranto celeste
Sobre meu dorso
Abrirei o guarda-chuva,
Para não fazer desta queda
Um prazer, um flerte,
E buscá-la outra vez...
Como a que de nada se lembra!

Então teu peito vivo
Acolherá o ardor de minha
Alma, uma réstia do que fui...
E o fogo comporá outro som,
uma mais sutil e reveladora nota!
Esta nota reverberará no ar
Solta, canção no ermo e além!
E outra vida acordará!
Outro sentido reviverá!
E seremos nós, sem mais, apenas nós!




domingo, 13 de maio de 2012


Eu corri dentro da noite

Por entre as vias de parca luz
Levava um ramalhete
De flores...
Eu corri dentro do calor
Do vento frio
Com a alma sedenta
E mal sabes,
O corpo em tremores!
Corri de encontro
Para abarcar com os braços
A vastidão de todo um mundo!
E dei com a profundidade
De uns olhos turvos, 
Francamente iluminados por
Um lampejo interior.
Inda agora percebo que 
Fiquei por lá...


N'algum canto profundo...


quarta-feira, 9 de maio de 2012



Chega de caminhar incerto na linha

Eu quero ver-te dançar, gargalhar,

Seguir teu primeiro impulso

Sem medo da chuva, da rua

Sem o temor de avançar, e se dar, e de ser!


Pode ser qualquer coisa: uma nota, uma cor...
Sonhar com paraísos, enchentes e auroras...
Mas, por favor, seja tudo aqui e agora;
Não me deixe para depois,
Não se deixe ao mais tardar!

O que eu quero é o mundo
É o gosto, é o gesto, é a forma,
É a cena, é a cara...
E disso tudo eu quero tudo,
Eu quero até a alma!