sábado, 26 de maio de 2012


Desci a velha rua, quando a neblina ainda era parte da paisagem e eu parte dela. Caminhava em direção ao píer e já trazia no peito uma lufada daquele vento, a maresia não saia do meu corpo.  Em minha memória alguns vestígios, umas lembranças bem lentas e esparsas de uns risos, umas cenas...  
Não sei dizer qual o sentido daquela caminhada. Apenas sei que quando dei por mim lá estava cheirando outra vez os becos daquelas ruas e descendo aquela ladeira... Dentro de mim, era tudo imóvel e silêncio a minha linguagem, pois sentia, que embora desertas, aquelas vias gritavam, carregavam em si o murmúrio das gentes, até as festas e arruaças de uns boêmios, como eu... Acho que até mesmo gravaram nos paralelepípedos a tua risada leve e dissimulada!
Sim! Talvez estivesse procurando a cumplicidade destes lugares que passastes tão rápido e tão leve como em mim. Talvez apenas não me satisfizesse com as marcas na minha alma, o perfume no meu corpo escorrendo ao tempo breve, talvez não quisesse ocultar teus passos, e sim, compartilhar com o que me pudesse compreender, sem mágoas ou juramentos, ou culpas e desculpas a sensação indelével do teu passar. Talvez eu apenas quisesse dizer, muda, o que as vias já gritavam. Conjugar, outra vez teu verbo secreto, sem muitas nuanças e subterfúgios... Então, só quem me compreenderia seria este caminho que vai descambar no píer.
Olhar as barcas que dançam nas ondas do amanhecer, e viver na minha quietude todo o sinuoso movimento das vagas, porque dentro em mim sentia-me tão porto, que já me ancoravam  certas saudades...



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