domingo, 18 de março de 2012

Arte








Como descrever aquilo que envolve, ao mesmo tempo acelera e acalma?

Como exaurir o corpo e a alma podem significar preencher-se?

Como mover-se, afastando-se de uma convenção, pode ser mover-se ao encontro de si mesmo?

E como a cena pode significar mais que a imagem?

E a vida passar de simples a complexos jogos de puro detalhe?

Não se pode explicar...apenas aproveitar! 

A estes milagres todos atribuímos o nome de ARTE! 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Acordar



Hoje ao acordar percebi assustada, que nada havia em derredor de mim que me cercasse, delimitasse. Lancei o olhar atônito ao espaço ainda em sombras e elas não eram como paredes densas e intransponíveis, mas sim, como uma longa cortina de tecido leve e esvoaçante que em meu quarto dançava.
Eu quis temer, pois me ensinaram que o ser sem limites é perdido e inconstante... Mas não conseguí achar algo que se assemelhasse ao vil temor. Quis fugir, mas não haveria razão para fuga, pois eu estava exatamente onde eu deveria estar. Quis acreditar que estava em confusão, mas não estava. Quis fazer real a crença de que enlouquecera, mas não poderia. Eu quis abraçar o medo como ensinavam que o medo era, Oh! Como eu quis sentir o medo natural... Mas medo ali não havia.
Estava solto no espaço, um espaço de amplitude considerável, que se alargava para muito além das mesquinhas paredes do meu quarto. E senti, não pela primeira vez, mas pela vez definitiva a vida que silenciosamente pulsava. Ouvi com reverência os sons que desprendiam das cenas lá fora e deixei-me ao largo, sem maiores agonias ou ansiedades. Fiquei sentindo aquilo que é a vida, passeei por todos os seus mistérios na ilusão que chamamos tempo, senti todos os aromas repentinamente e desenhei velhas formas com a combinação de novas cores...
Hoje ao acordar finalmente concebi a verdade: jamais estivera acordada!

sábado, 10 de março de 2012

É...

Viver é assim: uma espécie de vício...
Soa como algo comum...porém de rápida proliferação!
Toma-nos por inteiro e todos os dias
Ao invés de saturar-nos , toma-nos um pouco mais!
Caminhamos, meio trôpegos em busca de saciedade
Porém esta jamais se encontra...
E vemo-nos, na manhã seguinte, despertando e implorando um pouco...
Apenas um outro tanto desta mágica letal
Desta substância indescritível: viver!

Experienciar!




               Deixe que me esqueça de mim mesmo
               Nas formas abstratas destes dias
Deixe que eu me entregue ao infinito
Sem mais razão, sem mais questionar
                 Eu que falo tantas coisas, quero teu silêncio.
                 E a leveza de tua alma... que se apegue a mim!
Eu, que turvo o horizonte em pranto
E escureço os salões de tanta dor
                 Quero apenas ser omisso a esta fadiga
                 E deixar-me no encontro de mim mesmo
Enquanto perco-me nesta matéria
 Que é tão absolutamente sua...
Experienciar!



quarta-feira, 7 de março de 2012

Sorriso



Enquanto ando, enquanto busco a sempiterna contemplação
Escuto...ouço...um som estridente tomando tudo ao redor
Invadindo, de maneira furtiva e sem intenção, todas as frestas,
Todos os espaços...sem que eu possa conter! Sem  preocupar-se
Em ser bem-vindo ou não! Sem imaginar se incomoda...
E, repentinamente, emudeço, pois aquela estridência
Transforma-me. E sinto como se não houvesse em mim
Um só pensamento que lhe possa tomar o lugar,
Sequer uma só dúvida que não se tenha perdido
Na invasão brusca daquele tão intenso  e simples SORRISO!

E sinto fenecer o labor das horas tantas que apenas gastava
Na contenda improfícua do questionamento vário...
E todos os poetas enfadonhos que apenas iludiam-se
Nas sombras opacas e sem vida...aquietaram-se...
Pasmos ao ver aquele incendiário canto derramando-se
Sobre tudo o que pode sentir! Sobre tudo que ainda vida houver!
Uma visão! Uma virtude a se expandir num célebre ato!
E eu cá, com os olhos postos no hiato do meu coração
Tentando eleger as palavras que pintassem a cena...
Eu, cá, dentro do meu eu introspectivo, escutando
Como alguém que se deixa  atrás da porta a ouvir
Um segredo! A guardar uma confissão!
Ah, meu Deus! Que puríssima expressão da beleza mais ingênua!
Como eu gostaria de eternizar cada nota de qualquer sorriso real!
Só para colocar em minha mente o acorde perfeito,
O som colossal que detém todo o sentido da minha alma
Neste instante sacrossanto, onde me encontro neste riso!
Mas as coisas belas assim o são por não serem feitas para durar
E sim para deixar em nós a marca de um segundo,
Como se ele fosse a vida inteira...

sábado, 3 de março de 2012

Brisa




Venha comigo, oh, hora tardia!
Dê-me teus abraços, quero voar!
Nem sei que paraísos aureolam
Minha alma sedenta de risos...
Mas sinto a vertigem das alturas
Que o meu ser galga e aspira.

Doce noturno navega dentro em mim!
Que o meu porto confuso
Recebe as naus de outros naufrágios,
Tesouros reclusos... Perdidos
Nas profundidades de qualquer mar!

Ah! Ver estas ondas da minha mansarda
E a lua, dócil, a se debruçar...
Sentir o odor destas horas de sonho
 Faz-me temer o desejo de ir e não
Retornar ao que sei...

Ser Lua, Ser Céu, Ser Mar!

sexta-feira, 2 de março de 2012

Noites Urbanas

Nas paisagens urbanas
Uma singular forma de viver...
A noite como um abraço
A todos acolhe indinstintamente...
Estou mergulhando nas luzes,
Estrelas de néon cristalizam
Outros sonhos e miragens.
E há sempre um desejo latente
Nas vias que percorremos.
 À noite, qualquer coisa serpenteia
Dentro dos becos mal iluminados,
E qualquer forma de pensar atrái.
Tudo é enunciado dentro de uma chama
Azul e gélida, no spleen da madrugada...

...

Para se cantar com certeza
As belezas imensas que cá enxergamos
Há que fazer-se suave a voz
E leve o coração e o pensar
Para que transborde o sonho
E alague os olhos...Nas lacrimais
Profundidades do êxtase!
Para que, como num ribeirinho,
Escorram-nos as águas das emoções
E irriguem suavemente
Os pequenos vales do nosso querer...

Para cantar a candura
Destes dias primaverís,
Que somente cá encontramos,
É preciso uma alma que se dê
De inteiro e por necessidade
A este singelíssimo ato de sentir!!