sábado, 28 de abril de 2012

Olhar de Soslaio



Afasta de mim teus olhos, criança
Não vês que este brilho me assombra?
Como ousas assim encantar
Este ébrio coração?
Não enxergas que o lançarás 
A uma alcova sem nome
E ele se consumirá
Na cinza dos sentimentos
Que sobrarão na alma
Quando tiveres lançado
O brilho deste olhar?
Tem pena e olha pro lado
Pra não me encantar!

Sondo um pouco mais a fundo
Para me certificar da agonia
Dos meus fantasmas criadores
Os loucos, os apáticos particulares
Que desdobram-se em imagens e milagres
E lançam seu hálito pródigo
Sobre um mundo assaz indiferente

Minhas almas dançam na noite
Caminham, erradias, desoladas
Buscando um sopro que lhes aperte
Uma lufada que as trague ao infinito
Elas andam entre o frio, cedem ao calor
E amam pudicamente na austeridade
Despudoradamente no vazio


Entre os braços ocultam a fineza
Violentamente calada num gesto
Trovam mariposas e luminárias
Desdenhando o maquinário senil 
Da existência que as circunda
E lá se vão, almas minhas
Que somente a si se dão
E inda a mim enganam sutilmente
Espíritos que a outrem não pertencem
Acarinhadas pelo modo em desuso:
O silêncio!
Beijadas e inflamadas no seio da noite
Sem rumo...

Ah! Eu quisera desprender de mim
Toda esta fala, que hesitante, medra
E descompassa a minha vivência!
Quisera arrancar como uma pele antiga
E gasta esta misérrima inércia,
Dar lugar aos quadros desconexos
E às figuras multidimensionais
Numa realização de alma e corpo!
Num diálogo entre a vida e o vivo!

Quisera gastar meus argumentos pobres
No silêncio de algumas madrugadas
Para renovar em mim todas as verdades,
Encher minha boca de palavras novas!
Quisera doar meu corpo junto com o verso
Nesse avesso de mundos inflamados,
E que meu abraço fosse sempre o perpétuo
Amante transmutador de toda carne!
Pois eu sinto os meus olhos abertos
Implorando uma visão da real liberdade!
E, como monge, as mãos postadas,
Admiro cada farpa como uma escrita
Em alto relevo dos soluços da alma!

Quisera mesmo encontrar-me nesta sede,
Neste abismo em que verto sons,
Na aurora límpida e também amarga...
Reconhecer em todos a minha face
E em cada corpo um gesto meu...displicente...
Pois em minha garganta está presa esta palavra
Que quer voar... e amar... e ser amada!


quinta-feira, 26 de abril de 2012


Eu fiz para mim um altar com meus medos
E minha pequena estupidez...
Andei descartando palavras sem som
À procura de uma iluminação qualquer,
E vi-me cansado da candura mentirosa
Que estes dias despejam sobre mim;
Ecos que flutuam de um poço a outro...
No meio do caminho há qualquer coisa
Que interfere na resposta do grito!
O que verei ao abrir minha janela:
Um sol que me queima, sem paixão,
Uma paisagem que ainda chama
Pela noite e suas revoluções?!
Ao abri-la eu vejo um dia a mais...
Desejos calados no intimo de todos nós.
Sentenças apertadas, bem no meio da garganta
Loucas para se libertar! Mas nós não podemos!
Esquecemos a beleza de falar...







Escrevemos todos monólogos arcaicos
E os inventariamos... Eis o nosso legado!
Com a mente turva aceitamos invólucros
Que prendem a expressão nas palavras
E quando andamos entre becos e vias
De precária iluminação, cegamos à sombra
Num reconhecimento quase involuntário
Das nossas dúvidas e assombros!

Desesperamos na perda do compasso
E não enxergamos o compasso desanimado
Que nos trouxe até este momento...
Mas o que quero é escrever algo
Que possa morder e sentir cravado em mim
E que me acorde para esta densidade
Todos os dias... Com beijos que marcam...
Que se imiscuem na alma, com força!
Eu quisera dar-lhe vida, minha palavra,
E formas e sonhos, e abraços e tatos...
Eu a queria viva... Mais nada!

terça-feira, 24 de abril de 2012


Talvez eu devesse proferir uma prece,
Aos deuses lançar um pedido de perdão
Por ser quem sou e não alcançar
A tão sonhada santidade...

Talvez devesse trancafiar meus pensamentos
E ocultar as tempestades do meu ego.
E talvez apaziguar meus desejos
E buscar os restos do Paraíso...

Mas a densidade do meu pensar,
O peso de ser o que sou nesta prisão
Apenas mostra-me o sangue que corre
Nas veias e faz arder a vida!

Eu precipitei meu olhar no vão
E pressenti no vento bem mais que a brisa...
O gosto de todos os sonhos do mundo! E
Em meu lábio, aflito, se contorcia um Hallellujah!

Diga-me quantos oceanos eu trespassei
Ao fitar o horizonte perfeito de sua alma...
Diga-me quantos sons se misturaram ao meu riso
Durante a queda gentil e dolorosa!

Diga dos dias em que nada faz sentido
E ainda assim nos mantemos de pé...
Por favor, convença minha alma do erro
Que comete sempre que sonha este algo mais!

Faça uma prece... Chore por mim... Quebre
Este feitiço de sentir-me tão inteiro...
Fugindo da remissão e adormecendo em
Seus olhos mortais... Hereges... Olhos mortais.

Talvez sua prece não diga nada
Além do meu cansado nome nos ecos distantes
Da sua própria mente em ardência...
Pecando, docemente, ao meu lado!






Sem esta cor eu não seria...
Sem esta expressão nada se faz!
E quando cedo levanto meu olhar
A estas vivas paisagens, tão iluminadas,
Obrigo-me a pensar nas formas de percepção
Que permitem a mim o enxergá-las;
Chego à conclusão, aparentemente óbvia, e para uns
Um tanto sombria, de que não as veria
Se não houvesse em mim esta capacidade perigosa
De amar o Belo a tal ponto, que em tudo o noto,
Em toda a parte o conjuro, o encontro!

Houve um tempo em que quis acreditar na possibilidade
De caminhar na vida sem este envolvimento,
Sem doar-lhe o alto gral do meu sentir...
Eu quis ser uma pedra como muitas que vejo
Parada, a receber a esfuziante luz lunar
Sem estremecer, sem me abismar em poesia,
Sem que isto em mim movesse todo um complexo sistema
Onde reina o mais absoluto desejo!

Fracassei!
Fracasso!
Eu nunca comemorei mais alegremente o som
De uma derrota! Nunca esta palavra “fracasso”
Soou mais melódica e harmonicamente a nenhum outro ser
Neste mundo- e aí incorro no risco de ser pretensiosa,
Sem sequer pensar em perdão-como soa para mim!
Jamais me orgulhara antes de qualquer ação
Como me orgulho deste lindo “fracasso”!

Àqueles que carregam em si esta sina
De ter que sentir e ter que expressar,
De ir aos extremos somente numa vibração,
De estar sempre em busca do extra-sensorium,
Do que transcenda as vagas teias do raciocínio,
Daquilo que apenas ... SEJA!... A estes
Não é possível corromper ou aniquilar sem causar
A própria extinção material, humana da criatura.

Não é possível aguilhoar aquele que apenas conhece a LIBERDADE!
Não é possível retirar-lhe esta substância salvífica...
Não é possível negar-lhe a ARTE, sem negar-lhe a própria VIDA!




“Que teu terreiro seja sempre enluarado...”



Como é difícil se manter uma ideia
Tê-la sempre ali, presa ante o olhar
Fundar no peito uma imagem
Transparecê-la na própria retina
Dar-lhe vida e nova forma
E com a tua alma diariamente a alimentar
E como louco dar-lhe estrelas
Infringir as leis só para que ela exista
E depois de perdê-la, perder-se
Até que à surdina outra te pegue
Aqueça seu ego, tome a cabeça
Porque ideias são meretrizes
Porque ideias são amantes
Que simplesmente se dão
A pleiteadores, meros aprendizes
Em busca de um sopro da sua paixão!




segunda-feira, 16 de abril de 2012


Eu quis fazer um poema curto
De coisa pouca e singular
Para encurtar distâncias
E juntar sentidos e histórias
E devagar notei que a canção
De si para si falava e falava
E eu quis ficar para ouvir
Os sussurros que ainda
Ela ,de mim, segredava
E perdi a linha e a métrica
Por enamorar-me de sua palavra
E foi crescendo num ímpeto
Cada verso a si descobria
E eu mais perdido ficava
Tonto já das espirais que subiam
Contemplar tão absorto
Estava a sós contigo, Poema
Nas distâncias abissais
E evocavas do meu âmago
Variadas emoções
E alongavas cada memória
E minha mão mais apertavas
Nem meu rude trato
E a pouca compreensão
Da minha mente anuviada
Afastaram os teus ecos
Os teus magníficos fantasmas
E na alquimia torta do fazer-te
Estava eu, teu escravo,
A ser totalmente refeito
Às margens de mim
Ao ver nestas águas
A ti somente contemplava...





domingo, 15 de abril de 2012


Sentir esta vida é um desafio. Estar entre as nuvens quando o dia amanhece é um dom e absorver os raios do ocaso, uma espécie de graça inexorável. Dizei-me, então, como podemos contentarmo-nos com menos do que esta perfeição e como são capazes de viver no mediano ou  abaixo da linha?
Eu não compreendo os homens que vivem como se tudo soubessem e como se cada dia fosse passivo de previsão, nem as pessoas que tremem de medo e abandonam a oportunidade quando esta lhes é dada.
Ofertar quem somos é uma dificuldade que sempre se eleva quando encaramos as formas de enxergar que se desenvolvem na sociedade que prega o medo e a paralisia nos atos criativos e verdadeiramente interessantes!
É o vero homem um gladiador perante tantos obstáculos para o seu ser e a transposição de suas ideias. Enfrentar os ditos e desditos há de ser uma guerra rotineira para alcançar aquilo que já é nosso há tanto... Aquilo que realmente somos... Nossa Identidade!




Porém apenas sou outra... Que fala... E fala em demasia!

sábado, 7 de abril de 2012

O experimento


Veja,menino, este céu azul
beije a boca do vento
e jogue um versinho no meu colo!

Abra os olhos e os braços,
dance sobre os ponteiros
deste relógio imaginário! 

Agarre-se às asas das 
noturnas mariposas...
nos encontramos mais além!

Não sinto medo do frio,
há sempre estrelas
aquecendo meu corpo nu!

Quero colorir teus lábios
na cor do meu batom...
e sussurrar baixinho teu nome!

É só entrar na dança
minha mão apertar
se perder um pouquinho

Só assim se pode encontrar!
E foi com tua palavra solta
Que escrevi o meu verso
De encantos cheio

Perdido na forma
Ele escorre veemente
Entre os dedos

E puro deleita-se
Em apenas quedar
Sobre páginas livres

Que se desfarão
Sob o sopro romântico
Da'lguma brisa

E sempiterno ecoa
Nos labirintos vários
Das almas que escutam

Solitárias criaturas
Cantando nas horas
A delícia de um verso




Amo a poesia escondida em cada noite, no silêncio de toda fala arquitetada ou suprimida no íntimo...E cada passo que damos no desenrolar da madrugada, recebendo o vento frio como um açoite.

O olhar que parece ensimesmado, perdido e na verdade está encontrando outros pontos de vista nas calçadas, outras formas que se escondem entre os becos.
Cada pensamento é um ato de improviso encenado com perfeição.
Cada som é de um compasso vibrante e cheio de nuanças e possibilidades.
Amo beber a noite nos encantos e enleios de cada nota que deixam escorrer...
Amo cada coisa pequenina que não conseguimos controlar!
pois em tudo isso encontro a essência da vida e a razão de ser da minha alma!






Dou de mim sempre mais do que podem suportar...

Porque quero sem intervalos, sem prudências,
Sem a falsa moral, má condutora de medrosos
Que se abatem sigilosamente sobre suas ânsias.

Falo sempre mais que a boca deveria
E esbarro sempre nas falas insanas,
Aquelas que saltam e se rebelam contra 
A própria mente...malcriadas, errantes!

Gosto de prender-me enquanto olho
E de esquecer quando estou buscando
Só para ter o prazer de redescobrir,
De ouvir- à sombra- o novo criar!

Sou irremediável! Sou amante pelo
Simples gosto que tenho de amar!
E trago em meu âmago essa confissão,
Que deixo solta, ao alcance de qualquer alma.

E tendo um deus qualquer escutado minha prece
Sabe bem que isto não é um pedido
De perdão...E sabe ele inda mais que não há o
Que se perdoar àqueles que se perdem de paixão!

Por que, afinal, reduzir a intensidade?
Um só motivo para que haja calma...
Por que contentar-se com o sopro,
Se podes tomar os braços do Zéfiro?
E por que meio-tom a pintar
Se és o calor de toda cor?

De que te vale calar no peito
Toda a viva ansiedade que carregas,
Esconder de si para si como se pecásseis
Por trazer o imenso desejo de viver
A corroer-lhe o âmago?...

Onde sepultas teu anseio
Eu faço refulgir meu calor!
E onde procuras teu freio
Está minha natural exaltação!

Eu acordo enquanto dormes
E amo enquanto te esvais...
No teu silêncio há meu grito
E na tua palidez meu sangue...

Eu caminho dentro em mim
Qual tonto, deslumbrado!
Tudo o que é certeza
Não passa de cogitação
E eu adoro especular!

Por que, afinal, reduzir a intensidade?
Não há um só motivo para que haja calma...






De que vale cerrar os olhos, ficar muda
Como estátua inerte, diante da imperfeição...
De tantos pontos elegantes desta hora iluminada?
Ante a forma despida que suplanta
Qualquer leviandade nestas palavras
estará, sempre intenso, um desejo,
uma canção de corpos que vivem
do ardor musicado em sussurros...
que se alimentam nos poemas que queimam!

E quando desponta plena e cheia
esta lua, cúmplice eterna, derrama
seus raios de prata aquecendo
ainda mais as hordas amantes
que em seu enleio anelam!
E o que dizes com teus lábios
são os feitiços soprados por ela...
E os corpos em que te deitas
são aquecidos pelos beijos dela...

Ou será, então, esta nossa ânsia 
a iluminá-la com tanto querer?
Ou será ainda que nossos desejos
a plenificam e alimentam?




À noite vadiam os pensamentos como os gatos que desfilam suas silhuetas na sombra, sob um poste ou à luz do luar...

E mesmo entre as vozes da multidão ainda há um silêncio que invade tudo sutilmente, chegam as tendências à solitude. Não me vejo contemplando o vazio e sim, a imensidão cheia de segredos naturais.Talvez não passe de delírio do jazz, uma cortina de fumaça ao redor da minha mente manipulando a dança-fantasma destas palavras.Quem sabe eu me desfaça no etéreo vinho que corre nas artérias destas horas...Quem sabe eu circule um pouco mais pelas avenidas principais procurando uma revelação... Nirvana... Na madrugada?!