sábado, 28 de abril de 2012


Ah! Eu quisera desprender de mim
Toda esta fala, que hesitante, medra
E descompassa a minha vivência!
Quisera arrancar como uma pele antiga
E gasta esta misérrima inércia,
Dar lugar aos quadros desconexos
E às figuras multidimensionais
Numa realização de alma e corpo!
Num diálogo entre a vida e o vivo!

Quisera gastar meus argumentos pobres
No silêncio de algumas madrugadas
Para renovar em mim todas as verdades,
Encher minha boca de palavras novas!
Quisera doar meu corpo junto com o verso
Nesse avesso de mundos inflamados,
E que meu abraço fosse sempre o perpétuo
Amante transmutador de toda carne!
Pois eu sinto os meus olhos abertos
Implorando uma visão da real liberdade!
E, como monge, as mãos postadas,
Admiro cada farpa como uma escrita
Em alto relevo dos soluços da alma!

Quisera mesmo encontrar-me nesta sede,
Neste abismo em que verto sons,
Na aurora límpida e também amarga...
Reconhecer em todos a minha face
E em cada corpo um gesto meu...displicente...
Pois em minha garganta está presa esta palavra
Que quer voar... e amar... e ser amada!


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