terça-feira, 24 de abril de 2012


Talvez eu devesse proferir uma prece,
Aos deuses lançar um pedido de perdão
Por ser quem sou e não alcançar
A tão sonhada santidade...

Talvez devesse trancafiar meus pensamentos
E ocultar as tempestades do meu ego.
E talvez apaziguar meus desejos
E buscar os restos do Paraíso...

Mas a densidade do meu pensar,
O peso de ser o que sou nesta prisão
Apenas mostra-me o sangue que corre
Nas veias e faz arder a vida!

Eu precipitei meu olhar no vão
E pressenti no vento bem mais que a brisa...
O gosto de todos os sonhos do mundo! E
Em meu lábio, aflito, se contorcia um Hallellujah!

Diga-me quantos oceanos eu trespassei
Ao fitar o horizonte perfeito de sua alma...
Diga-me quantos sons se misturaram ao meu riso
Durante a queda gentil e dolorosa!

Diga dos dias em que nada faz sentido
E ainda assim nos mantemos de pé...
Por favor, convença minha alma do erro
Que comete sempre que sonha este algo mais!

Faça uma prece... Chore por mim... Quebre
Este feitiço de sentir-me tão inteiro...
Fugindo da remissão e adormecendo em
Seus olhos mortais... Hereges... Olhos mortais.

Talvez sua prece não diga nada
Além do meu cansado nome nos ecos distantes
Da sua própria mente em ardência...
Pecando, docemente, ao meu lado!





2 comentários:

  1. Talvez devesse se libertar - pensei nisso quando lia e, simultaneamente, incluia-me em seu poema.

    Beijos!
    Parabéns pela densidade com que escreves.

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  2. Que bom! Que seja assim sempre: que possa incluir-se nestas palavras...gosto que eles não falem só de mim ou de um imaginário distante!

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